Pressão 12 por 8 é considerada alta? Entenda as novas diretrizes (2025)

Pressão alta: tudo o que você precisa saber para sua prática clínica!

Por muitos anos, a pressão arterial de 12 por 8 (120/80 mmHg) foi considerada normal e frequentemente apontada como ideal para uma saúde cardiovascular equilibrada. Contudo, as novas diretrizes publicadas em 2024 mudaram essa perspectiva.

Hoje, 12 por 8 é classificada como “pressão elevada”, exigindo maior atenção para prevenir o desenvolvimento de complicações cardiovasculares. Mas o que motivou essa mudança? Como essas diretrizes foram elaboradas? Quais as implicações práticas para médicos e pacientes? Continue lendo esse texto e saiba mais!

O que mudou nas diretrizes de 2024?

Em março de 2024, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em parceria com a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) e a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), divulgou novas orientações sobre o manejo da pressão arterial. Essa atualização, que se alinha às diretrizes internacionais da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), redefine os critérios para classificar a pressão arterial, com base em evidências científicas mais recentes.

A principal mudança foi a reclassificação de 120/80 mmHg, antes vista como normal, para “pressão elevada”. A nova tabela de classificação ficou assim:

  • Pressão normal: Inferior a 120/70 mmHg
  • Pressão elevada: Entre 120/70 e 129/79 mmHg
  • Hipertensão estágio 1: Entre 130/80 e 139/89 mmHg
  • Hipertensão estágio 2: Igual ou superior a 140/90 mmHg.

Essa revisão busca identificar precocemente riscos cardiovasculares e evitar complicações graves como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca.

Por que 12 por 8 agora é considerado pressão elevada?

A mudança na classificação de 12 por 8 como pressão elevada foi motivado por estudos que demonstram que níveis considerados normais-altos estão associados a danos acumulativos nos vasos sanguíneos e a um risco aumentado de eventos cardiovasculares.

Entre os principais estudos que sustentaram essa decisão, o SPRINT trial teve destaque. Publicado inicialmente em 2015 e revisitado recentemente, ele mostrou que a redução intensiva da pressão arterial para valores inferiores a 120/70 mmHg diminui significativamente o risco de infarto, AVC e morte cardiovascular. Outros estudos corroboram esses achados, revelando que mesmo pequenos aumentos na pressão podem resultar em:

  • Dano subclínico aos órgãos-alvo, como hipertrofia ventricular esquerda e nefropatia incipiente
  • Rigidez arterial: um precursor de aterosclerose
  • Disfunção endotelial: um fator chave para a progressão de doenças cardiovasculares.

Essa mudança busca incentivar um monitoramento mais rigoroso e intervenções preventivas desde os primeiros sinais de elevação da pressão.

Publicação das novas diretrizes

As novas diretrizes de 2024 foram apresentadas durante o Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado em março de 2024. Posteriormente, foram disponibilizadas em formato digital para médicos e profissionais de saúde no site oficial da SBC. A formulação contou com a participação de cardiologistas, nefrologistas e epidemiologistas, que revisaram dados de estudos populacionais e ensaios clínicos multicêntricos.

O alinhamento com as diretrizes europeias, divulgadas pela ESC em agosto de 2024, reflete um esforço global para uniformizar a abordagem do manejo da hipertensão. As diretrizes completas podem ser acessadas aqui.

Estratificação de risco: um passo essencial

Com as mudanças, as diretrizes enfatizam que a pressão arterial não deve ser avaliada de forma isolada. A estratificação de risco cardiovascular passou a ser uma peça central no manejo, integrando múltiplos fatores de risco para definir as metas terapêuticas e a necessidade de intervenção.

Os principais critérios para estratificação incluem:

  • Idade (mais de 55 anos para homens e 65 para mulheres).
  • Histórico familiar de doenças cardiovasculares precoces.
  • Diabetes mellitus.
  • Presença de dislipidemia (colesterol LDL elevado ou HDL baixo).
  • Tabagismo.
  • Sedentarismo e obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²).
  • Doença renal crônica (DRC).

Ferramentas como o SCORE2, amplamente utilizadas na Europa, ajudam a calcular o risco cardiovascular em 10 anos. Com base nesse risco, classifica-se os pacientes em baixo, moderado, alto ou muito alto risco, o que orienta o manejo clínico.

Acompanhamento: como lidar com a pressão elevada?

Com a reclassificação de 12 por 8 como pressão elevada, o acompanhamento desses pacientes exige mais atenção. As diretrizes recomendam:

Importância da técnica correta na medição da PA

A técnica correta na medição da pressão arterial (PA) é essencial para garantir diagnósticos precisos e o manejo eficaz da hipertensão. Erros técnicos, como o uso de equipamentos inadequados ou a postura incorreta do paciente, podem gerar resultados imprecisos, levando a diagnósticos equivocados e tratamentos inadequados.

As diretrizes enfatizam a necessidade de seguir protocolos padronizados, como o uso de aparelhos calibrados e validados, a escolha do manguito adequado e a garantia de condições ideais durante a aferição. Deve-se treinar profissionais de saúde para aplicar essas práticas corretamente, assegurando a confiabilidade dos dados e a segurança no cuidado ao paciente.

Monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA)

A MAPA destaca-se como uma ferramenta essencial para avaliar a PA ao longo de 24 horas, identificando padrões como a ausência de queda noturna (non-dipper) ou elevações matinais, que estão associadas a maior risco cardiovascular. Essa monitorização fornece uma visão abrangente do comportamento da PA no cotidiano do paciente.

Monitorização residencial da pressão arterial (MRPA)

A MRPA permite que os pacientes realizem medições em casa, oferecendo dados complementares às aferições clínicas. Isso auxilia na identificação de hipertensão do jaleco branco e hipertensão mascarada, condições que podem passar despercebidas em medições isoladas no consultório.

Frequência recomendada para medições

Para pacientes com PA elevada, a diretriz sugere medições regulares, preferencialmente em horários consistentes, para monitorar tendências e efetividade do tratamento. A frequência exata deve ser determinada pelo médico, considerando o perfil de risco e a resposta terapêutica do paciente.

Uso de dispositivos validados

A confiabilidade dos resultados depende do uso de equipamentos devidamente calibrados e validados. A diretriz recomenda a utilização de aparelhos certificados por órgãos competentes, garantindo a precisão das medições.

Educação do paciente

Capacitar os pacientes sobre a importância da medição correta da PA e o entendimento de seus valores é vital para o sucesso do tratamento. A diretriz incentiva programas educacionais que promovam o autocuidado e a adesão às terapias prescritas.

Esses pontos complementam as informações previamente discutidas, oferecendo uma abordagem mais detalhada sobre as práticas recomendadas para a medição da pressão arterial, conforme as diretrizes de 2024.

Tratamento da pressão alta: quando e como intervir?

As intervenções em pacientes com pressão elevada concentram-se inicialmente em mudanças no estilo de vida, mas, em casos de alto risco cardiovascular, indica-se o uso de medicamentos antes mesmo de alcançar os níveis diagnósticos de hipertensão.

Mudanças no estilo de vida

  • Dieta DASH: encorajada pelas diretrizes, consiste em uma alimentação rica em frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e baixa ingestão de sódio (menos de 2 g/dia)
  • Atividade física: pelo menos 150 minutos semanais de exercícios aeróbicos moderados, como caminhada, corrida ou natação
  • Redução do consumo de álcool: máximo de uma dose por dia para mulheres e duas para homens
  • Controle do peso corporal: cada redução de 5% no peso pode diminuir significativamente a pressão arterial
  • Abandono do tabagismo: essencial para todos os pacientes.

Tratamento farmacológico da pressão alta

O tratamento medicamentoso para hipertensão pode ser necessário em pacientes com condições específicas, mesmo em níveis de pressão arterial considerados “elevados”. Indica-se essa abordagem em indivíduos com risco cardiovascular alto ou muito alto, de acordo com ferramentas de estratificação como o SCORE2, ou em casos onde já existem doenças cardiovasculares estabelecidas, como infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, pacientes com doença renal crônica (DRC) ou diabetes mellitus com complicações também se beneficiam do início precoce do tratamento farmacológico.

Os medicamentos de primeira linha recomendados pelas diretrizes incluem:

  • Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) ou Bloqueadores dos Receptores da Angiotensina II (BRA): reduzem a resistência vascular periférica e oferecem proteção aos rins, sendo preferidos em casos de DRC e diabetes
  • Diuréticos tiazídicos: auxiliam na redução do volume plasmático, diminuindo a pressão arterial de forma eficaz, especialmente em pacientes idosos ou com hipertensão sistólica isolada
  • Bloqueadores dos Canais de Cálcio: relaxam os vasos sanguíneos, reduzindo a pressão arterial e melhorando a circulação coronariana.

As diretrizes de 2024 recomendam iniciar o tratamento com combinações de dois medicamentos em doses baixas para potencializar os efeitos e minimizar os efeitos colaterais. Essa estratégia tem demonstrado maior eficácia no controle da pressão arterial em comparação com monoterapias. A escolha dos medicamentos deve ser individualizada, considerando o perfil do paciente, comorbidades e possíveis interações medicamentosas, promovendo um manejo seguro e eficiente da hipertensão arterial.

Impacto das novas diretrizes na prática clínica

A reclassificação de 12 por 8 como pressão elevada deve provocar mudanças significativas na prática clínica. Isso inclui:

  • Aumento da conscientização: médicos precisam educar os pacientes sobre os riscos associados a essa classificação e a importância da adesão às mudanças propostas
  • Maior demanda por serviços de saúde: mais pacientes precisarão de acompanhamento, exames e intervenções
  • Desafios na adesão ao tratamento: especialmente nas mudanças de estilo de vida, que podem exigir suporte multidisciplinar.

Por outro lado, o foco preventivo das diretrizes tem o potencial de reduzir drasticamente a incidência de complicações cardiovasculares, beneficiando pacientes e sistemas de saúde.

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Referências bibliográficas

  • Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes Brasileiras de Medidas da Pressão Arterial Dentro e Fora do Consultório. Disponível aqui. Acesso em: 7 dez. 2024.
  • ESC – European Society of Cardiology. 2024 ESC Guidelines for the management of elevated blood pressure and hypertension. Disponível aqui. Acesso em: 8 dez. 2024.
  • Whelton PK et al. 2017 ACC/AHA Hypertension Guidelines. Journal of the American College of Cardiology, 2017.
  • SPRINT Research Group. A randomized trial of intensive versus standard blood-pressure control. New England Journal of Medicine, 2015.

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